Por Davi Lago
Jesus
não veio como um libertador político ou reformador social. Jesus veio ao mundo
para salvar pecadores. Perante Pilatos, Cristo afirmou: “O meu Reino não é
deste mundo” (Jo 18.36).
Dado
que o maior problema do mundo é espiritual, e não político, a igreja tem uma
missão espiritual. Devemos entender que os resultados espirituais que queremos
ver na sociedade só podem ser alcançados através de meios espirituais. Por
exemplo: uma genuína reforma moral nunca virá através de mudanças na lei, mas
através de mudanças nos corações e mentes das pessoas.
Não
adianta estabelecer leis que obriguem as pessoas a viverem como cristãs, pois
só a obra do Espírito Santo pode promover essa transformação. Dessa forma, a
maior potência do mundo não é nenhum protesto político, mas a proclamação do
evangelho de Cristo, pois só ele é “poder para a salvação” (Rm 1.16).
É
interessante notar que os primeiros cristãos viveram sob um governo muito mais
opressivo do que os sistemas políticos de nosso tempo, e jamais tentaram formar
um partido político, ou mesmo alterar as leis romanas imorais. Pelo contrário,
eles “pregavam a palavra por onde quer que fossem” (At 8.4).
O
maior bem temporal que possamos realizar neste mundo através de uma
participação política não se pode comparar com o que o Senhor pode realizar
através de nós no trabalho de seu reino eterno. Assim como Deus chamou o antigo
Israel, ele convocou a igreja a ser um reino de sacerdotes e não um reino de
ativistas políticos (1Pe 2.9).
Portanto,
deve ficar claro que a missão da igreja jamais foi causar uma reforma política
no mundo, mas sim, uma reforma espiritual. Cabe aqui a história de um cristão
que estava sentado ao lado de um político. Um mendigo passou na frente deles. O
político disse: “o meu programa político pode dar roupas novas para aquele
homem”. E o cristão respondeu: “O meu Jesus pode colocar um homem novo naquelas
roupas velhas”.
A responsabilidade política do cristão
Embora
a igreja não tenha uma agenda política, cada cristão pode e deve se envolver na
arena política como indivíduo. O teólogo John Stott afirma que os cristãos
devem evitar os dois erros opostos, o do laissez-faire
(não fazer nenhuma contribuição ao bem-estar político da nação) e o da imposição (procurar um ponto de vista
minoritário a uma maioria que não o queira, como no caso das leis
antialcoolismo nos Estados Unidos, no período do proibicionismo). Em vez disso,
deve se lembrar que de que a participação política é importante e a democracia
significa governar com o consentimento dos governados, que o “consentimento” é
questão da opinião pública majoritária e que a opinião pública é uma coisa
volátil, que está aberta à influência cristã. O cristão deve salgar a política[1].
Todos
os cristãos individualmente podem ser politicamente ativos. Todo cristão deve
ser o “sal da terra”. O cristão precisa estar no mundo para que sua influência
possa ser sentida. Por isso é fundamental que todo crente esteja inteirado dos
assuntos políticos, conscientizado dos problemas sociais, atento às atividades
dos políticos que ajudou a eleger, etc. Paulo escreveu a Tito: “Lembre a todos
que se sujeitem aos governantes e às autoridades, sejam obedientes, estejam
sempre prontos a fazer tudo o que é bom, não caluniem ninguém, sejam pacíficos,
amáveis e mostrem sempre verdadeira mansidão para com todos os homens” (Tt
3.1-2). O cristão deve estar pronto a fazer tudo o que é bom e buscar o bem de
todos os homens. Esta é justamente a missão da política: lutar pelo bem de
todas as pessoas.
Exemplos históricos de influência política positiva dos
cristãos
Podemos
citar duas conquistas políticas muito importantes que foram frutos diretos da
influência de cristãs no âmbito político: a abolição da escravatura na
Inglaterra e o fim da segregação racial nos Estados Unidos.
1.
A abolição da escravatura no período
moderno foi resultado da luta política do estadista cristão William
Wilberforce na Inglaterra. Wilberforce foi um crente devoto e político exemplar
que trabalhou incansavelmente para impedir o comércio de escravos da África
para as Índias Ocidentais. Após vinte anos de labuta, o parlamento inglês
finalmente aprovou seu projeto de lei para deter o comércio de escravos. Em
seguida, ele trabalhou, por mais de 25 anos, para libertar os escravos dos
territórios ingleses. Após o esforço de Wilberforce, o parlamento libertou os
700 mil escravos ingleses remanescentes.
2.
A conquista dos direitos civis para os
negros foi uma grande conquista na História dos Estados Unidos, que
repercutiu na política mundial. Essa vitória foi resultado da atuação política
do pastor batista Martin Luther King Jr. Ele que liderou o movimento social que
lutou contra a segregação racial. A atividade de Martin Luther King Jr. foi
inspirada no evangelho e deu resultados positivos.
É
válido salientar que tanto a remoção da escravatura na Inglaterra, quanto o
estabelecimento dos direitos civis para os negros nos Estados Unidos, não foram
fenômenos novos dentro do cristianismo. Como afirma Alvin J. Schmidt, “ambas as
conquistas já eram práticas existentes dentro da igreja cristã desde seus primórdios”[2].