Por Davi Lago
O
cristão é um estrangeiro e peregrino nesta terra (Hb 11.13; 1Pe 2.11),
portanto, ele não pode ver nenhum país terreno como seu lar definitivo: “A
nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). No entanto, a Bíblia ensina que o
crente deve zelar pela sua pátria terrena, orar por ela e exercer sua cidadania
de forma responsável.
A submissão cristã aos governantes não é cega e
irrestrita
A
Escritura comanda os cristãos a serem submissos às autoridades civis. Paulo
escreveu a Tito: “Lembre a todos que se sujeitem aos governantes e às
autoridades, sejam obedientes, estejam sempre prontos a fazer tudo o que é bom”
(Tt 3.1). O texto de Romanos 13.1-7 destaca a importância da submissão do
cristão às autoridades civis. Está escrito: “Todos devem sujeitar-se às
autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus” (Rm
13.1). Fica claro que Deus é a fonte de toda autoridade e que todo crente deve
ser submisso aos governantes para que a sociedade viva em ordem e paz. O
apóstolo Pedro nos alerta que a obediência a autoridade civil deve ocorrer por
causa de Deus: “Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída
entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes,
como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam
o bem” (1Pe 2.13-14). Ou seja, Jesus Cristo é o Senhor supremo. A submissão ao
governo é “por causa do Senhor”, e não por causa do próprio governo. O texto de
Pedro “desdiviniza” as instituições governamentais e seus representantes.
Cristo é nosso Senhor e tudo que fazemos deve ser para sua glória.
No
entanto, essa obediência deve ser exercida sempre de forma crítica. Quando uma
lei civil chocar-se com a lei de Deus, o cristão deve partir para a
desobediência civil. A submissão aos governantes não é cega e irrestrita. Não
se trata de servilismo, mas de submissão consciente e crítica. Sempre que for
decretada uma lei que contradiga a Palavra de Deus, a desobediência civil
torna-se um dever cristão. Há notáveis exemplos disso nas Escrituras.
Quando
o faraó ordenou que as parteiras hebreias matasse os meninos que nascessem,
elas se recusaram a obedecer. “Todavia, as parteiras temeram a Deus e não
obedeceram às ordens do rei do Egito deixaram viver os meninos” (Êx 1.17).
Quando o rei Nabucodonosor emitiu um decreto de que todos os seus súditos
deveriam prostrar-se e adorar sua imagem de ouro, Sadraque, Mesaque e
Abede-nego recusaram-se a obedecer (Dn 3). Quando o rei Dario emitiu um decreto
de que por 30 dias ninguém deveria orar “a qualquer deus ou a qualquer homem”,
exceto a ele mesmo, Daniel recusou-se a obedecer (Dn 6.7). E quando o Sinédrio
baniu a oração em nome de Jesus, os apóstolos recusaram-se a obedecer (At 4.18).
Todas essas recusas foram heroicas, apesar das ameaças que acompanhavam esses
editos. Em cada um desses casos, a desobediência civil envolvia um risco
pessoal muito grande, além da possível perda da vida.
O cristão vai além do protesto, ele intercede
O
cristão não pode depositar sua fé e esperança nos políticos: “Não confiem em
príncipes, em meros mortais, incapazes de salvar” (Sl 146.3), mas deve orar por
eles: “Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e
ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem
autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade
e dignidade. Isso é bom e agradável a Deus, nosso Salvador, que deseja que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2.1-4).
O
cristão deve interceder em favor dos governantes por duas razões. A primeira é
que, como resultado benéfico delas, os cristãos podem esperar uma vida
tranquila e pacífica. Ou seja, não sendo expostos à suspeita de deslealdade,
terão licença de praticar sua religião sem medo de serem molestados. A segunda
razão é mais profunda: a intercessão pelos governantes é importante por causa
da salvação de suas vidas. O cristão deve orar para que o evangelho alcance o
coração das autoridades.