Um mini-estudo bíblico para cristãos, céticos e curiosos
Por Davi Lago
O livro do Gênesis
afirma que o homem é um ser criado à imagem e semelhança de Deus: “Então disse
Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’ [...] Criou
Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
(Gn 1.26-17). Analisemos esse texto e suas implicações:
Criou
Deus o homem
O homem é,
portanto, uma criatura. Há uma diferença abismal entre Deus, como Criador, e o
homem, como criatura, que jamais poderá ser apagada. O homem é barro mais sopro
divino.
Há várias
implicações do fato de o homem ser uma criatura de Deus:
1. Os seres humanos
não têm existência independente. Ou seja, o homem é um ser dependente de Deus.
Sem Deus, não haveria homem. O homem não gerou a si mesmo, nem é autoexistente.
Somente Deus é incriado, sendo portanto, autoexistente (Sl 90.2).
3. Há um vínculo
comum entre todos os seres humanos. A doutrina da criação significa que estamos
todos relacionados uns com os outros.
O homem é,
portanto, uma criatura, mas como revela o texto de Gn 1.26-27, ele não é uma
criatura qualquer, mas sim um ser feito à imagem
e semelhança de Deus.
À sua imagem e semelhança
O comentarista
bíblico Derek Kidner afirma que as palavras imagem
e semelhança se reforçam mutuamente,
não havendo, portanto, distinção teológica entre elas[1]. Andrés
Ibáñez Arana afirma que a palavra hebraica equivalente à imagem, significa reprodução, imitação, ser igual, enquanto que a
equivalente à semelhança significa cópia[2].
Portanto, dizer que o homem é imagem e semelhança de Deus, significa dizer que
o homem é como Deus, reflete a Deus. Isso é elucidado em Gênesis 5.3: “Aos 130
anos, Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem; e deu-lhe o
nome de Sete”. Perceba que Sete é imagem e semelhança de Adão. Ou seja, assim
como um filho se parece com seu pai, o homem se parece com Deus.
Toda a Escritura
Sagrada irá mostrar em que o homem é como Deus. A humanidade reflete Deus na
sua racionalidade, criatividade, capacidade de comunicação, espiritualidade,
capacidade de dominar, de tomar decisões, e assim por diante.
O fato de sermos imagem de Deus, ou seja,
termos a estampa de Deus em nós, constitui também uma declaração de
propriedade. Jesus disse aos seus questionadores: “De quem é esta imagem e esta
inscrição?”. “De César”, responderam eles. E ele lhes disse: “Então deem a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.20,21). O ser humano
pertence a Deus, assim como a terra e tudo o que nela há (Sl 24.1).
Outro elemento importante da imagem de Deus
em nós é a nossa consciência de Deus. O teólogo R.K. McGregor Wrigth afirma:
“Quando um cachorro está em dificuldade, ele não ora, apenas corre. Calvino
chamou a consciência humana da presença de Deus de ‘semente da religião’ e de
‘senso da divindade’. Blaise Pascal observou que há um ‘buraco em forma de
Deus’ no coração humano que só Deus pode preencher”[3].
Wrigth afirma ainda que quando Deus criou
Adão, ele também tinha em mente a encarnação futura de Jesus Cristo, porque
Jesus era “o Cordeiro de Deus morto desde a fundação do mundo’ (Ap 13.8). Em
outras palavras, a natureza de Adão foi criada de tal modo que a pessoa do
Filho de Deus pudesse ter uma expressão pessoal perfeita através dele na
encarnação do Cordeiro. Desse modo, Jesus é chamado de “a imagem de Deus” em
2Co 4.4. Novamente em 2Co 3.18, Paulo descreve nossa transformação progressiva
na imagem de Cristo. O ser humano deve ser renovado à imagem de Cristo (Rm
8.29; Gl 4.19; 1Pe 1.4; 1Jo 3.2).