6 de fev. de 2013

Criador e criaturas: O que significa ser imagem e semelhança de Deus?




Um mini-estudo bíblico para cristãos, céticos e curiosos

Por Davi Lago

O livro do Gênesis afirma que o homem é um ser criado à imagem e semelhança de Deus: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’ [...] Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.26-17). Analisemos esse texto e suas implicações:

Criou Deus o homem
O homem é, portanto, uma criatura. Há uma diferença abismal entre Deus, como Criador, e o homem, como criatura, que jamais poderá ser apagada. O homem é barro mais sopro divino.
Há várias implicações do fato de o homem ser uma criatura de Deus:
1. Os seres humanos não têm existência independente. Ou seja, o homem é um ser dependente de Deus. Sem Deus, não haveria homem. O homem não gerou a si mesmo, nem é autoexistente. Somente Deus é incriado, sendo portanto, autoexistente (Sl 90.2).
2. A humanidade faz parte da criação. Por mais diferentes que os homens sejam dos outros seres criados por Deus, ele não é tão distinto do restante deles a ponto de não ter nenhuma relação com eles. O homem é parte da sequência da criação.
3. Há um vínculo comum entre todos os seres humanos. A doutrina da criação significa que estamos todos relacionados uns com os outros.
O homem é, portanto, uma criatura, mas como revela o texto de Gn 1.26-27, ele não é uma criatura qualquer, mas sim um ser feito à imagem e semelhança de Deus.

 À sua imagem e semelhança
O comentarista bíblico Derek Kidner afirma que as palavras imagem e semelhança se reforçam mutuamente, não havendo, portanto, distinção teológica entre elas[1]. Andrés Ibáñez Arana afirma que a palavra hebraica equivalente à imagem, significa reprodução, imitação, ser igual, enquanto que a equivalente à semelhança significa cópia[2]. Portanto, dizer que o homem é imagem e semelhança de Deus, significa dizer que o homem é como Deus, reflete a Deus. Isso é elucidado em Gênesis 5.3: “Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete”. Perceba que Sete é imagem e semelhança de Adão. Ou seja, assim como um filho se parece com seu pai, o homem se parece com Deus.
Toda a Escritura Sagrada irá mostrar em que o homem é como Deus. A humanidade reflete Deus na sua racionalidade, criatividade, capacidade de comunicação, espiritualidade, capacidade de dominar, de tomar decisões, e assim por diante.
O fato de sermos imagem de Deus, ou seja, termos a estampa de Deus em nós, constitui também uma declaração de propriedade. Jesus disse aos seus questionadores: “De quem é esta imagem e esta inscrição?”. “De César”, responderam eles. E ele lhes disse: “Então deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.20,21). O ser humano pertence a Deus, assim como a terra e tudo o que nela há (Sl 24.1).
Outro elemento importante da imagem de Deus em nós é a nossa consciência de Deus. O teólogo R.K. McGregor Wrigth afirma: “Quando um cachorro está em dificuldade, ele não ora, apenas corre. Calvino chamou a consciência humana da presença de Deus de ‘semente da religião’ e de ‘senso da divindade’. Blaise Pascal observou que há um ‘buraco em forma de Deus’ no coração humano que só Deus pode preencher”[3].
Wrigth afirma ainda que quando Deus criou Adão, ele também tinha em mente a encarnação futura de Jesus Cristo, porque Jesus era “o Cordeiro de Deus morto desde a fundação do mundo’ (Ap 13.8). Em outras palavras, a natureza de Adão foi criada de tal modo que a pessoa do Filho de Deus pudesse ter uma expressão pessoal perfeita através dele na encarnação do Cordeiro. Desse modo, Jesus é chamado de “a imagem de Deus” em 2Co 4.4. Novamente em 2Co 3.18, Paulo descreve nossa transformação progressiva na imagem de Cristo. O ser humano deve ser renovado à imagem de Cristo (Rm 8.29; Gl 4.19; 1Pe 1.4; 1Jo 3.2).




[1] KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2004, p.50.
[2] ARANA, Andrés Ibáñez. Para compreender o livro do Gênesis. São Paulo: Paulinas, 2003, p.39.
[3] WRIGHT, R.K. McGregor. A soberania banida. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.81.